
Pedro E. Santos
(croqui)
"O Caminho Amarelo"
Aguarela
32 x 20
É de cor fulva
a penuge da vulva
da mulher que eu adoro.
O problema é que moro
num bairro de lata.
A renda é barata,
mas a casa não serve
e eu não tenho verve
que a convença
que não é doença
a minha probeza.
É uma tristeza!
E uma chatice.
Porque o meu fetiche
é ter uma ruiva
que me diga que uiva,
em jeito de mimo,
mal eu me aproxime.
Essas são raras
e pagam-se caras.
E esta é uma delas.
E das mais belas.
Vai ser um castigo,
casá-la comigo!
in "Diário de um Dromedário"
in "Diário de um Dromedário"
Na cozinha
da Rainha
abriu a caça
à massa,
ao passo que, na minha,
foi a farinha
que, de avental,
gritou para o quintal
ser inimiga
da formiga.
Entretanto, a vizinha,
em conversa com a galinha,
disse que tanto lhe faz
ter um rapaz ou um ananás.
“O que importa”,
concluiu, “é a horta não estar morta”.
“Couve
é que nunca lá houve”,
sussurrou o velho abade,
ao ouvido de um feijão frade
“nem crescem lá sinos, nem mesmo meninos”,
retorquiram, em coro, os pepinos.
Foi, então, que o jasmim,
lá do fundo do jardim,
resolveu pedir à cereja
que fosse num instante há igreja
implorar ao sacristão,
na circunstância, o agrião,
para que falasse com os nabos,
recém-promovidos a cabos,
e com os palermas dos pimentos,
ufanos da sua condição de sargentos,
e os convencesse a não imitar as sementes,
que, armadas em tenentes,
agrediram o atum
sem motivo nenhum
e trataram as trufas
como se fossem putas.
Melhor seria que fizessem como o defunto
presunto,
ou o malogrado tomate,
infelizmente caídos em combate,
numa luta sem quartel
contra as forças do mel!
in "Diário de um Dromedário"
Cristo:
mas o que vem a ser isto?
Maomé:
então, como é?
Buda:
quando é que isto muda?
in "Diário de um Dromedário"